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Olá, seja bem-vindo ao EPCOT! Tenha um dia mágico!

1. Introdução

Meu nome é Raphael, e quando fiz esse intercâmbio tinha 23 anos e cursava Turismo na Universidade Federal Fluminense. Desde a minha primeira visita ao Magic Kingdom em 2008, com 14 anos, por livre e espontânea pressão da minha mãe, sou apaixonado por parques de diversões, tendo visitado mais de 50 em toda minha vida e andado em (até agora, abril de 2018) em 170 montanhas-russas. Essa paixão foi o que me levou a cursar Turismo e concentrar toda minha vida acadêmica ao redor desses lugares mágicos, especialmente entender como o visitante se comporta a partir do momento que entra nos portões e como os parques mexem com a cabeça das pessoas para atraí-las. Por conta disso (e pela minha paixão) eu queria muito trabalhar em um parque para ter a dimensão da dinâmica envolvida e para saber como era a sensação de ser um empregado de um lugar que deixa as pessoas felizes.

Era mais fácil eu procurar um intercâmbio do que me mudar de estado para trabalhar no Hopi Hari ou Beto Carrero World, então comecei a ver se as redes Six Flags, Cedar Fair, Universal tinha algum programa de trabalho, e nenhuma tinha. Eu relutei até o final em escolher a Disney e seu ICP pois queria algo mais raiz e menos glamoroso. Como não encontrei nada, o “jeito” foi fazer o ICP. Esperei até o sexto período da minha faculdade para poder fazer com tranquilidade.


De início, eu tinha como referência meus estudos sobre a Disney, e meus dois alumnis do 16/17 maravilhosos, Gustavo e Luyza. O único grupo que entrei foi o Futuros Disney Cast Members no Facebook para eu ficar a par de tudo que acontecia nos momentos que antecediam o processo seletivo. Evitei entrar em grupos de whatsapp antes de saber a aprovação, primeiro porque não tenho paciência para grupos imensos, segundo que não queria interagir e depois quebrar a cara. 

Por mais que eu olhasse torto ainda para a ideia de fazer o ICP, eu sabia que se eu passasse eu iria para Orlando com a meta de aproveitar o máximo de cada parque. Queria conhecer tudo, fazer tudo. E queria me sentir livre no trabalho. Não adiantaria eu fazer esse processo para ter a mesma infelicidade que eu sinto em ficar atrás de um balcão ou sentado em um escritório. Eu preciso estar ao ar livre para me sentir feliz.

Fui até o norte de Ohio atrás de montanha-russa. Esse parque temático da foto é o Cedar Point, que detém o segundo maior número de montanhas-russas do mundo.

Então foi o momento que eu tinha que ter pelo menos uma ideia das roles, isto é, o tipo de trabalho que eu faria lá. São as seguintes:
- Attractions: operação de brinquedos familiares/infantis e portaria dos parques;
- Character Attendant: guardião e assistentes dos personagens;
- Character Performer: atuação como os personagens Disney;
- Costuming: serviço de corte, costura e lavagem de uniformes;
- Custodial: limpeza das áreas comuns e banheiros;
- Merchandise: operação de caixa, venda e arrumação de estoque das lojas;
- Quick Service: atendimento e manutenção das lanchonetes.

Dentro dessas, a única que poderia me oferecer a liberdade que queria era Custodial. Nunca havia lidado com lixo na minha vida, mas sempre gostei dos ambientes que eu estava limpo e organizado. Apesar de amar a parte de brinquedos, pensei que eu poderia acabar achando chata depois de tanto tempo trabalhando. Dito isso, coloquei Custodial na cabeça, apesar de estar ainda com medo do que eu teria que lidar. 

O meu investimento financeiro para o ICP foi na ordem de US$ 2660/R$ 9500, que incluiu todos os gastos antes de receber o meu primeiro salário. Foram US$ 355 da acomodação da Disney, US$ 801, US$ 309 do seguro obrigatório, US$ 160 do visto J1, US$ 35 da taxa SEVIS e US$ 1000 para sobrevivência e primeiras compras. Consegui a maior desse dinheiro trabalhando em um estágio na faculdade e o resto veio através de patrocínios familiares.

2. O Processo Seletivo

O processo seletivo é composto de 3 etapas: inscrição online, entrevista presencial com a STB e entrevista presencial com a Disney (ambas em inglês). 

Primeiro passo – Inscrição online: A STB realiza palestras em algumas capitais dos estados do Brasil para contar mais sobre o intercâmbio e realizar a primeira entrevista. Para ter acesso a essa palestra, é necessário garantir seu lugar através de um cadastro em um hotsite que a STB irá disponibilizar dias antes da data das inscrições. É recomendável ser ágil nesse processo, pois as vagas se esgotam em poucos minutos. Para tudo correr bem no primeiro passo, fique de olho no site da STB sobre o programa e em páginas no Facebook, como a Segunda Estrela, para saber todas as informações necessárias. 

Segundo passo – entrevista com a STB: Essa entrevista ocorre logo após a palestra informativa. Ela é o “grande funil” do processo seletivo, visto que a taxa de eliminação de participantes é altíssima. Não existe segredo absoluto para ser aprovado, mas existem alguns fatores que é importante prestar atenção para garantir que a sua entrevista não seja um desastre. É importante lembrar que o que escrevo não é verdade absoluta, podendo variar de pessoa para pessoa, porém é o que eu observo melhor na característica de aprovados. Lá vai:

- Não fique de cabeça baixa e olhe diretamente nos olhos do entrevistador o tempo todo.
- Não vá com frases gravadas que muito provavelmente você vai se perder. Mantenha uma linha de raciocínio constante, evitando gaguejar, a partir de palavras-chefe guardadas na mente.
- Não invente de falar palavras rebuscadas em inglês. Passe sua mensagem claramente com o que você sabe.
- Seja sincero na hora de relacionar o seu objetivo de vida profissional com o porquê de você estar fazendo o programa. Evite faltar que você sente amor aos parques ou aos personagens da Disney.
- Seja empolgado e sorria. Não fale com voz baixa.
- Pense em argumentos próprios do porquê você faria a diferença como um empregado Disney. Não vá em clichês como “quero ter a oportunidade de fazer contato com novas culturas” ou “eu teria muito em contribuir com a Disney porque sou uma pessoa extrovertida e sem medo do trabalho”. 
- Não fale sobre experiências na qual o entrevistador não quer saber ou que não esteja relacionada com o programa, como “vejo séries”, “eu desenho”, “faço esportes”, “amo comida mexicana”.
- É indicado ter experiência profissional, trabalho voluntário e/ou viagens internacionais no currículo, assim como certificados de línguas estrangeiras.
- Caso tenha experiência com viagens internacionais, procure dizer em que elas contribuíram para o seu crescimento pessoal. 
- Não se intimide pelo colega ao lado nem o deixe te intimidar. 
- Tenha consciência que sua entrevista também depende do entrevistador, às vezes, ele pode não ir com a sua cara.

Me lembro de ter ido com uma galera enorme da minha faculdade para a entrevista em São Paulo. Estava acontecendo o Encontro Nacional de Estudantes de Turismo (ENATUR) na cidade na mesma época da entrevista do ICP, e não foi difícil convencer a galera a tentar o programa junto comigo. Lembranças para motorista de Uber Angelina, que fez o impossível para tentar chegar no lugar em um domingo com metrô e ruas interditadas (mesmo eu gritando de desespero e pulando para fora do carro no momento em que chegamos perto do local). Foi uma das viagens mais divertidas que fiz para São Paulo e faria tudo de novo. 

Terceiro passo – entrevista com a Disney: Sendo aprovado na entrevista com a STB, 1 mês e meio depois tem a entrevista com a Disney, em São Paulo. Nessa etapa do processo, o recrutador pretende conhecer você melhor, fazendo perguntas mais aprofundadas sobre seu currículo. É nessa entrevista que você deve falar seu parque favorito ou atração favorita para efeitos de possíveis definições de work location. A ideia dessa entrevista é ser um papo descontraído. 


Eu fiz a entrevista com a Regina, a chefe do recrutamento Disney no Brasil. Eu saí de lá arrasado, porque eu tentava iniciar uma conversa e ela acabava me cortando querendo saber algo específico. Achava que não ia passar, mas no final tudo correu bem, apesar da Disney ter esquecido de me mandar a minha Job Offer, isto é, seu contrato de trabalho.

Job Offer

3. Do resultado da aprovação até o embarque
Nesse tempo, você estará surtando de ansiedade a cada dia que passa, porém vários passos importantes são executados. Primeiro de tudo, essa é a hora de entrar em grupos. A comunicação com as pessoas que também passaram te ajuda muito a saber informações e a se sentir mais seguro de tudo. 

A STB te dará aos poucos via um portal os passos que devem ser executados, com suas respectivas datas. Aqui, o primeiro documento mágico que você receber é a sua Job Offer, que contém a role que você fará e o seu salário a ser pago. Aceitando sua Job Offer, você paga as primeiras semanas do DORMS, o portal que garante sua residência em um dos quatro condomínios da Disney em Orlando. Com esses dois passos completados, comece a correr atrás de passagem aérea, hospedagem para os dias que antecedem a data de check-in na Disney e continue acompanhando para você ter o recebimento do seu DS-2019, o documento do governo americano que permitirá você tirar o visto J-1. Além disso, você deverá também pagar uma taxa chamada SEVIS e preencher um site da Disney (New Hire Portal) em que colocará todas suas informações para que tudo ocorra bem com seu salário. 

Depois disso tudo pronto, bem perto da data de embarque você verá se será possível linkar com algum amigo seu, isto é, ambos ficarem no mesmo quarto. Nos últimos anos, somente a galera que foi na segunda e terceira data foram permitidos esse benefício. Além disso, você escolherá entre um dos quatro condomínios: Vista Way, Chatam Square, Patterson Court e The Commons. Apesar de ter escolhido linkar, pela oportunidade de uma melhor comunicação com meus colegas de apartamento, que acabaram por serem todos brasileiros, sinto que perdi uma oportunidade de interagir com outras culturas mais fortemente. 

4. A chegada aos Estados Unidos

Você só terá direito a 2 malas de 23kg em qualquer companhia aérea, ao menos que queira pagar excesso de bagagem. Minha dica para a arrumação das malas é que você não cometa o mesmo erro que cometi, levando muito do mesmo. Leve no máximo 2 pares de sapatos, 10 a 15 camisas, 2 a 3 calças, e se preferir levar toalhas e roupa de cama, leve no máximo 2 de cada. Isso te poupará dores de cabeça em relação a peso e no manejo das malas. Busque ficar longe de sacolas na mão e mantenha seus eletrônicos em uma mala de mão. 

Na imigração, apresente os seguintes documentos: passaporte com o visto e o DS2019. Caso o entrevistador pergunte por quanto tempo ficará e onde você vai ficar, fale todas as informações que recebeu da Disney. Caso você esteja hospedado em um hotel da Disney, você pode pegar o Disney Magical Express no Aeroporto de Orlando em direção ao seu hotel. Caso não, pegue um Uber ou Lyft, um app concorrente.

Escolhi ficar dois dias no Walt Disney World Resort aproveitando os hotéis antes de ir para o condomínio. Foi ótimo porque pude dar vários rolês nos hotéis do complexo, e conhecer as diferenças entre eles. Além disso, é o tempo de você conhecer as pessoas que você conversou até então só pela internet e trocar experiências. Escolhi conhecer todos os cantos do meu hotel caçando Pokémons e visitar o Art of Animation, por ter uma seção preferida do meu filme favorito da Disney, Carros.

 

Nem preciso dizer que amei cada detalhe que pude perceber. Além disso, passei no Disney Springs e jantei no Rainforest Café, um dos milhares de restaurantes do centro comercial da Disney. É muito legal você ter esses primeiros momentos de confraternização com os participantes do programa, até para você se sentir mais acolhido.

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5.  Entrando no condomínio

Meu condomínio foi o Vista Way. Eu o escolhi pelos prédios ao seu redor: o fast-food Wendy’s, lar do famoso 4-4-4 (um combo de um hambúrguer sem gosto, batata frita, nuggets de frango e bebida); Walgreens, uma farmácia e depósito de bebidas; Dollar Tree, um mercado onde tudo é vendido a 1 dólar e outros, como a pizzaria Cici’s Pizza e um complexo de golfe. Além disso, é do Vista que saem a maior parte dos ônibus para os lugares. 

 

Fiquei no prédio 23, um pouquinho longe do terminal de ônibus, mas incrivelmente perto da piscina e da recepção. O Vista é o mais antigo dos condomínios, e isso dava a ele um ar charmoso de subúrbio americano, especialmente com as árvores perdendo as folhas no outono e depois completamente secas no inverno. Entretanto, os apartamentos sofrem um pouco com a idade: as máquinas de lavar, que ficam do lado de fora do apartamento, quebravam constantemente; nosso triturador de lixo quebrou no primeiro mês; os colchões eram bastante duros e as gavetas não tinham mais sustentação. Para completar o barraco, os ônibus que são disponibilizados para nós são verdadeiras lata-velhas.
 

Eu gostei de morar no Vista Way, especialmente pelos estabelecimentos perto. Apesar de não ter participado de muitas, o Vista também era o epicentro das festinhas e rolês (mais sobre isso a frente). Entretanto, se você não se importa de pegar ônibus, eu acredito que o Chatam Square seja a melhor opção, por ser mais novo, ser o centro de eventos e ter a mesma quantidade de linhas de ônibus que o Vista tem. 

 

O The Commons possui o benefício da máquina de lavar ser dentro do apartamento, e o Patterson Court é o mais novo dos condomínios, porém somente uma linha de ônibus passa no condomínio, sendo necessário andar para o Chatam para pegar o resto dos ônibus.

6. A primeira semana

A mudança, na segunda-feira, foi muito confusa. Quando eu vi todo conteúdo das minhas duas malas enormes espalhados em cima da cama senti uma ansiedade enorme de arrumar tudo. Entretanto, eu tinha que comer e comprar vários utensílios para o apartamento, então já no primeiro dia você só sai correndo para o Walmart e o Dollar Tree em busca de tudo aquilo que você precisa. 

Cuidado ao comprar grandes quantidades de comida. Para mim, cozinhar não foi uma realidade porque trabalhava no mínimo 8 horas por dia e preferi dormir do que cozinhar. Logo, a quantidade de comida que comprei no primeiro dia de Walmart estragou facilmente. Faça compras para a sua semana, e compre todos os utensílios ou eletrônicos que desejar. 

 

Os dias seguintes foram de muito parque! Eu já tinha comprado daqui do Brasil o passe dos parques SeaWorld (Busch Gardens e SeaWorld), então já fui correndo experimentar a Mako! De resto, aproveitei o condomínio porque sabia que não teria tempo de aproveitar depois. Na quinta-feira, aconteceu o Traditions na Disney University, o primeiro treinamento que temos da Disney. Nele, aprendemos sobre as tradições da empresa e é uma oportunidade para todos ficarem familiares com o passado de Walt Disney. Assim como muita coisa nesse programa, vai depender muito de você, e muito de sua história de vida, decidir se o Traditions é realmente emocionante ou não.

Depois, tive a minha primeira visita ao Typhoon Lagoon, um dos parques aquáticos da Disney em anos. Foi uma delícia! Os parques aquáticos de Orlando são ótimos nessa época por estarem realmente muito vazios. Ah, no Traditions, recebemos já o direito de aproveitar o passe para aproveitarmos os parques da Disney de graça e o descontão de 40% nos produtos! Não vou falar outras coisas que recebemos, nem o nome do passe, para evitar mais surpresas que é muito gostoso ter lá.

 

Vi que era uma cultura da região de Orlando o uso de lanyards, aqueles cordões que normalmente aqui no Brasil usamos para pendurar a chave da bicicleta ou de armários, etc. Lá, as pessoas enchem de pins, sejam para trocar pelos parques ou apenas para mostrar as suas aquisições. Pins são caros e alguns são tão raros que as pessoas até evitam sair com eles. Além das lanyards, as pessoas ainda podem guarda-los em bolsas ou em imensas maletas. É algo muito sério de se colecionar. Dito isso, tratei logo de ter a minha. Cada pin que estava em minha lanyard tinha um significado imenso para mim, e você verá o que significa cada um deles durante esse relato. 

 

Nos dias a seguir, tive o começo dos meus treinamentos de Custodial e o Winter Formal, o baile de formatura ao estilo festa americana! Vou aproveitar o gancho do Winter Formal para dizer que as minhas relações sociais na primeira semana não foram fáceis. Mesmo tendo falado com uma quantidade considerável de pessoas no período pré-programa, vi todas indo embora de uma maneira muito fácil em virtude de terem conhecido outras pessoas lá. Acabou que quis dar atenção para tanta gente, que acabei ficando sem alguém realmente do meu lado. Digamos que sofri um baque psicológico muito grande nesse momento porque meu ambiente social no Brasil era de amigos vindos de diferentes grupos e acabei achando que teria a mesma coisa lá. Foi preciso a ajuda dos meus amigos do Brasil e uma ajudinha internacional da minha psicológica para me convencer a ficar e ver o quanto eu ainda tinha pela frente mesmo sentindo solidão e abandono.

7. Treinamento e primeiros dias como Custodial

Os primeiros dias de treinamento aconteceram na Disney University. O primeiro dia era o Welcome to Operations, uma verdadeira aula de gestão de parques temáticos (nem preciso dizer que amei) e segurança no trabalho. Já o segundo dia tive o Custodial Core, em que aprendi os básicos das funções de um custodian. Foi engraçado porque eu sou a pessoa mais desajeitada do mundo, então era quase impossível eu lembrar do passo-a-passo certo que tinham me acabado de ensinar HAHAHAHA! Além disso, nem por um decreto conseguia fazer o nó que os custodians fazem para manter o saco de lixo preso na lixeira. Nesse momento, eu senti que tudo estava perdido e que eu ia ter muita dificuldade na role.

FELIZMENTE, os próximos dias já seriam na minha work location: a Comunidade Experimental e Protótipa do Amanhã, ou EPCOT. Foram dois dias de treinamento em que nossos treinadores maravilhosos tiraram (quase) todo nosso medo e nos deixaram bastante à vontade.

 

Visitamos os bastidores do Epcot, como o prédio abandonado do Wonders of Life (um dos antigos pavilhões, que era dedicado ao corpo humano – vocês podem imaginar o quanto surtei nesse momento, sempre sonhei em entrar), e andamos na atração Frozen Ever After de costume (nosso uniforme branco exclusivíssimo)!

 

Do ponto de vista técnica, fomos treinados em como fazer as trash runs (quando você vai de lixeira em lixeira para retirar e repor os sacos de lixo), varrer eficientemente, se proteger dos perigos (chorume, asbestos, sangue), como ser cordial com os visitantes, como ter uma imagem limpa, como limpar banheiros e principalmente, quais são as nossas fontes de momentos mágicos.

O EPCOT foi um sonho de work location. Apesar do Animal Kingdom ser o meu parque favorito do complexo, o EPCOT sempre foi o parque que eu mais estudei como futuro turismólogo especialmente pela sua histórica rica e inúmeras mudanças que passou ao longo do tempo. Eu realmente estava nervoso sobre aonde eu iria trabalhar, especialmente porque eu precisava que fosse parque por motivos do meu TCC (é real). Felizmente, tudo deu certo, porém no meu ano muitos custodians caíram nos hotéis da Disney, em que tiveram uma má impressão generalizada, principalmente pela falta de visitantes. Infelizmente, a work location é algo que está além do seu controle, a Disney que escolhe. 

 

Dentro do Epcot, eu ficava limitado ao Future World, isto é, a área que vai do estacionamento até a entrada do World Showcase (onde ficam os países). A cada dia, eu podia pegar Streets (eu tinha que limpar um pavilhão e os caminhos ao seu redor) ou Restrooms (eu tinha que limpar um banheiro principal e outros secundários). Nos dois primeiros dias, eu peguei os banheiros mais movimentados do Future World: o Eastblock, único banheiro do lado Leste do FW, e o The Land Down, o banheiro ao lado do Soarin’. Foi extremamente desgastante para o meu corpo sedentário, porém eu não parava em momento algum, me tornando uma pessoa mais ativa. No primeiro dia, eu tive meu primeiro BBP (Bloodborne Pathogen), isto é, sangue. Felizmente, como eu era novo, o coordenador veio me ajudar a limpar, mas imaginem a minha cara de ter logo um BBP de cara ao invés de um code-v (vômito), code-h (fezes), code-u (xixi) ou spill (pipoca ou sorvete). Nos dias seguintes, tive meu primeiro dia de Streets, em que demorei para entender a dinâmica das lixeiras e acabei me enrolando para tirar todos os lixos, voltando para casa arrasado. Mas as coisas melhoraram!

 

Ou não...

8. A experiência Custodial

O time de custodians no Epcot inicialmente era 5, com 2 no World Showcase e 3 no Future World. Eu ganhei os dois co-workers que nem nas minhas expectativas mais altas imaginava. João e Giovanna foram minha família do começo dos dias de trabalho até... hoje. Nós três criamos uma parceria em que raramente nos desgrudávamos, fazíamos tudo juntos, íamos para parques sem parar, combinávamos dias de folga e nos apoiávamos em qualquer momento de dificuldade, superando qualquer medo. Sou muito grato por termos desenvolvido essa conexão, porque sei que para cada um de nós, esse trio foi em grande parte o motivo do nosso ICP ter sido tão especial. 

O resto dos nossos co-workers eram em sua maioria haitianos e americanos do College Program. Ambos os “grupos” foram muito gentis conosco, em grande parte das vezes se dispondo a nos ajudar quando fazíamos algo errado. Entretanto, existia uma diferença clara em como cada cast member levava a vida como custodian, e foi aí que eu comecei a perceber as diferenças de todos que estavam ali naquele time. E a primeira que vi foi que trabalhar no Walt Disney World Resort não é necessariamente mágico, e a role Custodial dá ampla visão de um outro lado da Flórida que quase ninguém conhece. 

Penso em primeiro momento nos muitos brasileiros que estão insatisfeitos com nosso país e a primeira coisa que vem à cabeça é dar o fora daqui e falar que vai para os Estados Unidos, especialmente a cidade de Orlando, esperando viver um sonho interminável com os passes anuais da Disney, Universal e SeaWorld nas mãos. Não é bem assim.

Durante os 3 meses que trabalhei lá, tive que encarar uma realidade totalmente diferente da que um turista que chega no aeroporto vive. Pagar um aluguel de 107 dólares por semana por um apartamento capenga, ter que aprender a viver com 260 dólares semanais, aguentar humilhações de visitantes enfurecidos, e ter a maior discrição diante da velha maneira de gerenciamento de recursos humanos: faça o que eu mando, senão rua.

 

Eu trabalhava por volta de 38/40h por semana, então esses 260 dólares era basicamente meu salário fixo, com os descontos do imposto de renda e aluguel dos apartamentos. A única vez que fugiu desse patamar foi quando tive um turno de 34 horas seguidas trabalhando para compensar 3 dias de folga que requisitei. A questão de “ser rico" durante o programa varia muito com seu desejo de trabalhar. Eu evitava pegar turnos extras e valorizava muito meus 2 dias de folga por semana. Além disso, pela minha percepção, certas roles, como Merchan, e certas work locations, como o Disney Springs, davam mais horas trabalhadas que os outros. 

Talvez você esteja chocado que eu esteja falando e expondo tudo isso. Afinal, visitas e mais visitas ilimitadas nos parques de diversões não te fizeram feliz? Fizeram. E se o dinheiro do salário não desse, tinha, felizmente, minha família no Brasil para ajudar. Só que a realidade de Orlando é diferente. Bem diferente.

 

Por baixo de uma cidade nojenta arquitetada pelo rodoviarismo, que expulsou sua população local por conta da gentrificação, e é uma das capitais do consumo, vivem dois mundos: um, a população classe média e alta americana, seres humanos inconscientemente tristes, que vivem em seu mundo particular da família, com poucos amigos próximos e veem na compra compulsiva a forma de serem felizes, e a classe baixa, sem instrução, largada no mundo mágico da fantasia tentando sobreviver. E eles estavam no mesmo barco que eu. Trabalhando no mínimo 8h por dia num parque temático nas condições que falei e digo mais: Se ficou doente, azar, não recebe. Quer tirar férias, azar, não recebe.

"Foi trabalhar na Disney porque quis. Não está satisfeito, vem embora." Acontece, caro leitor, que se no meu caso fosse realmente muito fácil ir embora, para os Estados Unidos que eles querem esconder não é tão fácil assim. Conseguir um emprego num fastfood já é difícil, conseguir em um dos parques já é quase uma conquista equivalente à nossa vaga em uma universidade federal. É a única oportunidade de emprego dessas pessoas, que vivem num mundo em que precisam se humilhar para ter um mínimo de dignidade.

 

E o que a empresa, Disney, dá em troca? Um passe livre e 40% de descontos em produtos. Mas é claro, compense o inferno do trabalho com a magia da nossa empresa. Só que tem um detalhe: para mim, que ficou lá só 3 meses, e principalmente para o turista, essa magia ainda existe. Para quem já tá lá no mínimo 5 anos, essa coisa de magia é no mínimo, falsa. Lembra que eu falei que eu tinha família para ajudar caso o salário não desse? Essas pessoas não têm. Essas pessoas só tem o salário de 10 dólares a hora, para morar, comer e dar um futuro para seus filhos. 

 

O deslumbre com o mundo de fantasia é natural. Afinal, de todos esses anos estudando parques temáticos, o que mais tenho certeza é que no momento que você entra pelos portões, seus problemas parecem desaparecer. E eles desaparecem. Só que a maior parte das pessoas que fazem SEU sonho se tornar realidade, estão ali quase vivendo um pesadelo particular, que precisam vivenciar para o seu sonho de futuro melhor ou pelo menos decente.

 

Eu tive meus momentos mágicos. Eu tive o momento de alegrar crianças trocando pins, fazendo bolhas e dando sticker, de deixar uma família tranquila ao dar direções, de conversar com pessoas do mundo todo, até pegar abacate me pediram. Me lembro que outro dia uma criança me parou e entregou um coração pintado de arco-íris com uma mensagem de tolerância e empatia. Mas meu trabalho não era o tempo todo assim. De fato, acho que 30% ou 40% era. O resto, era puxando lixo, limpando vaso sanitário, pipoca, sangue, vômito, sorvete, cocô, xixi... Ou até mesmo fazendo nada, visto que as vezes ficava extremamente tedioso. Importante: a alta interação com visitante que todos veem em Custodial precisa partir de você. Você precisa estar de bom humor e disposto para que a interação ocorra. Você precisa correr atrás de fazer um momento mágico. Não fique esperando cair do céu porque raramente vai. 

 

Eu já sabia que faria isso, e não, não estou reclamando. Estou apenas mostrando que esse intercâmbio não é uma fábrica de fantasias o tempo todo. E como expus, para algumas pessoas, essa fábrica de fantasias nem existia. Eu cresci 3 anos em 3 meses por ter uma oportunidade de vivenciar algo assim e de aprender com essas pessoas. Aprender a não reclamar de barriga cheia, aprender a viver com pouco, aprender que lutar por você é sempre válido. E aprendi a valorizar mais o meu país. Os Estados Unidos estão longe de ser um suprassumo de primeiro mundo. 

O shift mais memorável de todos, o da maratona – 34 horas trabalhando sem parar!

Se você, leitor, escolher Custodial, eu não tenho ideia se você vai achar se limpar banheiro é fácil. Desinfetar mesa de troca de fralda, mictórios, vasos, dar descarga em fezes, secar o chão e as pias, varrer e trocar papel higiênico e papel toalha, e esborrifar cheirinho no banheiro, é difícil para você?

 

Trocar lixeiras, carregar sacos de lixo, varrer pipoca (odeio), limpar sorvete (cruzes), e batalhar contra carrinhos de bebê (ranço), é difícil para você? Eu não achei nada disso grande coisa, qualquer ser humano pode fazer isso, e pode fazer bem. Você perde seus nojos.

Depois desse textão todo, você deve se perguntar se eu odiei escolher Custodial, certo? Jamais.

Eu amei ter escolhido Custodial. A liberdade que eu tive de poder andar para qualquer lugar no parque, de poder fazer os dias das pessoas melhor apenas indicando direções ou deixando o ambiente limpo. Dificilmente em outra role eu poderia ter dançado com a galera e visto os fogos de artifício no ano novo ou aguentar 34 horas trabalhando com outros custodians brasileiros na maratona a base de muito riso e sono. Nessa role a gente aprende o significado real de comunidade, de ajudar o próximo (seja seu coworker ou visitante), de estar com a mão na massa e ter empatia. Tive meus dias péssimos, teve até um dia que fui acusado de algo que não fiz e tive que engolir seco. Entretanto, como expus, o saldo final é positivo. Eu fui feliz como Custodial e hoje eu lembro com um carinho no rosto cada vômito limpo.

9. Dentro do EPCOT 

O EPCOT, na minha visão, era um parque difícil de se trabalhar pela imensidão da área que tínhamos que cobrir sozinhos. Enquanto nos outros parques existe um outro custodian para te ajudar na posição de Streets, no EPCOT, apenas um tomava conta do pavilhão e de seus caminhos. Tínhamos que realmente nos desdobrar. Felizmente, nossos armários estavam sempre bem estocados, com nossas luvas, químicos (saudades Oxivir, o desinfetante que mata tudo menos seres humanos) e instrumentos de limpeza como rodos. Às vezes o compactador quebrava e os banana boats (carrinho em que botávamos os sacos de lixos) estavam sujos, mas nada que não fosse rapidamente resolvido.

Mapa do Epcot em 2017

Meus pavilhões favoritos eram o Test Track e o The Seas with Nemo and Friends. Test Track pela grande quantidade de lixeiras e pessoas em volta, então nunca ficava parado e podia interagir com bastante gente. O The Seas era um amorzinho de limpar, poucas hot cans (lixeiras com alta geração de lixo) e um aquário gigante em que me distraía com os animais. The Land era um pavilhão difícil, especialmente pela fila da Soarin’, que gerava muito lixo e os acessos eram precários, e pelo fato do lugar ter dois andares e eu não poder andar com o banana boat dentro. O pavilhão da Imaginação, lar do meu chefe, Figment (xô, Mickey), era tranquilo também, especialmente por fechar as 19h. Entretanto, um maldito carrinho de pipoca complicava um pouco as coisas e limpar o lounge do DVC (Disney Vacation Club) não era uma das coisas mais agradáveis. 

A Spaceship Earth tinha um número considerável de hot cans, além de nos dias mais frios, ter uma corrente de vento muito gelada que era difícil aguentar. Apesar disso, era muito legal receber os visitantes que chegavam ao parque e no final do dia, dar um grande até logo.

 

O pavilhão do prédio do Universe of Energy era o mais tranquilo de todos, visto que o prédio está fechado por conta da construção da montanha-russa de Guardiões da Galáxia, então quase não tinha visitantes. Além da posição dos pavilhões, podíamos ser também Relief, isto é, cuidávamos apenas das lixeiras recicláveis da entrada do parque, ou dos lados leste ou oeste. Essa posição acaba sendo um “faz-tudo” porque as lixeiras recicláveis demoram para poder encher, então sempre era chamado para limpar um code-v em algum lugar.

 

Foi assim que tive o gostinho de trabalhar no Mission: SPACE, já que fui lá para limpar consideráveis code-vs e esvaziar algumas lixeiras. Reciclável tinha um ponto bem ruim: era preciso rasgar o saco com as latinhas e garrafas para colocar no galpão de lixo, o que às vezes me rendeu uns banhos de chorume. Zero safety.

Uma posição que me surpreendeu foi quando fui designado para cuidar da limpeza do terminal de ônibus. Passei tédio o dia inteiro, até que a noite um ser iluminado resolveu vomitar um ônibus inteiro e eu fui chamado para limpar faltando 45 minutos para o meu shift (turno) acabar. Correria maior que essa só quando peguei um shift extra no Disney Springs em um dia completamente movimentado, algo que nem os meus colegas que trabalhavam no local estavam acostumados. 

O pavilhão que eu mais odiei trabalhar foi o do Club Cool. Ainda quero que aquele lugar exploda. O Club Cool é uma loja para você experimentar algumas bebidas da Coca-Cola ao redor do mundo, e para isso, é disponibilizado pequenos copinhos em que você põe uma amostra da bebida.

 

Esses copinhos geram uma quantidade de lixo absurda, em que eu tinha que trocar as quatro lixeiras em no máximo de 45 em 45 minutos. Fora isso, as pessoas ligavam o automático na hora de jogar o copo no lixo, sem perceber se eu estava trocando o lixo ou não. Isso causava copos cheios de líquido cair na lixeira vazia, copos caindo pelo chão, entre outras aberrações.

 

Aliás, isso serve de um alerta: como custodian, pude perceber o quanto tratamos o lixo como algo sem importância, querendo descarta-lo em qualquer lugar o mais rápido possível. Era incrível e triste perceber o quanto alguns visitantes jogavam seu lixo em qualquer lugar do parque e quando nós, custodians, percebíamos, ainda riam bem na nossa cara. 

O Future World do Epcot possui túneis, assim como o Magic Kingdom. Lá embaixo eram as minhas breakrooms (salas em que você pode descansar do trabalho) favoritas, especialmente porque os migués (tempo escondido fugindo do trabalho) eram raramente descobertos.

 

Além disso, lá sempre tinha Honey Buns, uns donuts maravilhosos que todo dia comia no trabalho. Bem em cima dos túneis fica a Fountain of Nations, uma gigantesca fonte com águas dançantes. Nela, acontecia os momentos mágicos de custodians como um grupo. A maior parte dos custodians ia para frente da fonte e ficávamos trocando pins, fazendo bolhas e divertindo crianças e adultos.

 

No final do dia, fazíamos a Wave, em que vestíamos as luvas do Mickey e dávamos tchau para a enxurrada de visitantes saindo do parque após o IllumiNations.

10. Meu tempo livre, os day-offs

Falar de tempo livre em Orlando é uma tarefa quase para mais 3 relatos... Mas vou tentar resumir como eu decidi ter meu tempo livre, e o que eu percebia das outras pessoas. Relacionado diretamente ao ICP, existem as festas Happy Mondays e o Baile do Brasil. As Happy Mondays aconteciam toda segunda-feira em uma boate de Orlando e eram festas em que os países se enfrentavam em jogos alcoólicos, tipo aqueles que vemos nos filmes americanos. O Baile do Brasil era uma outra festa em que tocava muita música brasileira, especialmente funk. Isso é o que sei por alto, pois não fui em nenhum dos dois por sair sempre tarde do trabalho e sempre preferir dormir no momento que eu chegava em casa. Eu dormia bastante, e não me arrependo, isso me fazia ter energia para não ficar doente e aguentar toda a rotina com bastante garra.

 

Também haviam festinhas dentro do meu condomínio, mais especificamente dentro do meu apartamento. Ele era até bastante conhecido por isso. Eu não me incomodava, até chegar ao ponto que ficava fora de controle, tendo um dia até que bateu a segurança. É importante ressaltar que apesar de não ter acontecido termination nesse dia, não é indicado brincar com a sorte e ter mais de 16 pessoas dentro do seu apartamento. Eu pouco ia também em festinhas em outros apartamentos, sim, para dormir. Eu sou viciado em dormir, desculpa.

Mas nem por isso deixei de me divertir. Fascinado por parques que sou, eu aproveitei os parques do Walt Disney World ao máximo ao ponto de que andei em todas as atrações de todos os quatro parques. Sim, todas. 100% de cada parque feito. Com o passe anual dos parques SeaWorld, fui 6 vezes no Busch Gardens e 4 no SeaWorld, até eu cansar de tanta montanha-russa. Adivinhe só. Não cansei e no final do mês de janeiro comprei o passe da Universal para a Harry Potter Celebration e assim não parava mais de ir em parques em cada buraco do meu tempo que eu tinha. Fui até nos menores, como os dois Fun Spots. Um Fun Spot fica em Kissimmee, e tem o maior skycoaster (estrutura que te iça até o topo e depois você despenca em queda livre) do mundo, com 91 metros de altura. E sim, eu e João pulamos. Nesse mesmo parque ainda tive a experiência memorável de ir sozinho num trem de montanha-russa. O outro Fun Spot fica em Orlando, pertinho do Outlet da International Drive e do Camilla’s, restaurante brasileiro.

Como eu já não batia bem da cabeça, pedi 3 dias off, e me deram. O que eu fiz? Peguei um avião e fui para o outro lado do país, na Califórnia, visitando tudo que eu podia em Los Angeles. Em 3 dias, fui 2 vezes no Disneyland Resort, onde pude revisitar minha área favorita, a Cars Land e ver meu show favorito da Disney nos Estados Unidos, o World of Color. Além disso, fui no Six Flags Magic Mountain, o parque com o maior número de montanhas-russas no mundo, visitei os estúdios da Warner e da Paramount, fui no píer de Santa Mônica, caminhei pela Calçada da Fama e vi LA cintilando no topo do Observatório Griffith. Agora sim, eu não dormi, mas valeu a pena cada segundo. 

 

Depois de parques de diversões, minha outra paixão são shows dos meus artistas preferidos. Peguei uma época ótima de shows em Orlando, com minha banda favorita fazendo um lindíssimo show no centro de Orlando. Que saudades, viu Paramore! <3 Pude ver também Katy Perry na gigantesca arena do Orlando Magic e o que foi na época o melhor show da minha vida, The Killers no Hard Rock Café. Hoje, ele só perde pro show do próprio The Killers no Lollapalooza. Muitos sonhos realizados! <3

Fiz meu próprio Oscar das experiências que eu tive nos parques temáticos, o que é um importante registro para você, leitor, pelo menos experimentar cada um desses lugares ou tirar foto:

- Montanha-russa favorita do Walt Disney World: Expedition Everest, no Animal Kingdom

- Montanha-russa favorita da Flórida: Mako, no SeaWorld

- Restaurante favorito do EPCOT: Biergarten, no pavilhão da Alemanha

- Atração favorita da Universal: The Incredible HULK Coaster

- Montanha-russa favorita do Busch Gardens: Montu

- Área temática favorita: Pandora – The World of Avatar, no Animal Kingdom

- Parque temático favorito da Flórida: Busch Gardens Tampa

- Parque temático favorito do Walt Disney World: Animal Kingdom

- Parque temático da Disney nos EUA favorito: Disney California Adventure

- Show de encerramento favorito do Walt Disney World: IllumiNations, no EPCOT

- Show de encerramento favorito em um parque Disney nos EUA: World of Color, Disney California Adventure

- Princesa Disney favorita: Mérida, no Magic Kingdom

- Personagem Disney favorito: Oswald, no Disney California Adventure

- Atração que mais fui: Journey into Imagination With Figment, no Epcot

- Atração favorita do Walt Disney World: Avatar Flight of Passage

 

Eu sou muito exigente quando o assunto é avaliar as atrações dos parques. Uma atração precisa pelo menos provocar emoção em mim, seja via adrenalina ou me fazendo despertar algum sentimento especial. Ambos os quesitos foram preenchidos pelo Avatar Flight of Passage. A Disney criou algo único em todo mundo, e pela primeira vez, exibiu uma tecnologia maior que seu concorrente (aliás a Universal precisa inovar urgentemente em tecnologias diferentes). A área de Pandora também era uma obra-prima.

 

Orlando está longe de ter as melhores montanhas-russas do mundo, porém a região tem duas joias: a montanha-russa invertida Montu no Busch Gardens com suas sete inversões, e a Mine Blower no Fun Spot Kissimmee, feita toda em madeira e com uma velocidade que custei acreditar. Menções honrosas para os meus bebês Cheetah Hunt, Everest, Space Mountain e Manta. Os lançamentos da Cheetah são incríveis, o “vai de ré” da Everest também, a velocidade e a originalidade da Space no escuro são muito divertidos e a posição de voo da Manta é algo extremamente singular. 

Apesar do Happily Ever After ter uma poderosa trilha sonora, sinto que o show ficou bem aquém do Wishes em questão de provocar emoções. Pela minha percepção, o Wishes conversava com sua criança anterior e a simplicidade de se formar um desejo. O Happily busca trabalhar com a maturidade desse desejo, porém, senti o roteiro do show um pouco confuso, que pela primeira vez assistindo, é difícil de identificar a linha de raciocínio, algo parecido com o que ocorre no Fantasmic!. O IllumiNations era meu show favorito no Walt Disney World por se conectar com meu objetivo de vida e paixão pelas culturas mundiais, assim como a mensagem de união entre povos, caminhada pela paz e o quanto temos dentro de nós para aguentar as dificuldades impostas. Entretanto, meu show favorito da Disney nos Estados Unidos é o World of Color do Disney California Adventure pelo seu roteiro simples, e ainda assim, poderoso, pegando os momentos mais marcantes das animações clássicas da Disney e mostrando o quanto a diversidade é presente e a harmonia das cores de todos as tribos é o que faz nosso mundo ser o nosso mundo. 

O meu parque favorito do Walt Disney World é o Animal Kingdom, e isso vem muito pela paixão e admiração que tenho com os animais, e além do mais, pelas culturas que o parque explora. O ambiente e a tematização do Animal Kingdom é o mais bem-criado dos quatro parques e o melhor mantido até hoje. O parque concentra inúmeros pontos de exploração que ficam escondidos aos olhos da grande massa e que proporcionam encontros incríveis. Uma das atividades mais legal é se tornar um Wilderness Explorer (como no filme Up!) e sair atrás de todos os selos de escoteiros. 

 

O Disney California Adventure é meu parque favorito de toda vida, e é fácil saber o porquê. Além de prestar uma homenagem ao meu lugar favorito no mundo todo, a Califórnia, o parque tem uma pluralidade incrível. É retratado o começo de Hollywood, as áreas montanhosas e dos cânions da Califórnia e presta homenagem aos parques de diversões em píer, que serviram de base para Walt Disney construir a Disneyland. Isso tudo é misturado com muita Disney, a começar pela área dos cânions – Cars Land, a recriação quase exata de Radiator Springs. Vocês podem imaginar o quanto surtei neste lugar, e o quanto eu não queria sair dali. Em breve, o California Adventure receberá em seu “píer” os personagens da Pixar e nos seus estúdios de Hollywood os personagens Marvel, que se juntarão aos Guardiões da Galáxia. Inclusive, a atração deles, “Guardians of the Galaxy – Mission: BREAKOUT!”, construída em cima do sistema da Tower of Terror, supera a Tower of Terror em adrenalina, sendo uma completa surpresa!

Não posso deixar de registrar que também fazia parte do meu tempo livre várias idas ao Wendy’s depois do trabalho comer 4-4-4 com meus lindos co-workers, reunir a galera para comer pizza no meu quarto e até mesmo rolê no Walmart, Florida Mall e Outlet. Pouco tive tempo para jogar o recém-comprado Nintendo Switch muito menos para montar os dois LEGOs gigantes que comprei, um sendo o Castelo da Cinderela e o outro sendo uma roda-gigante. Tinha um roommate que ia até na academia, porém eu passava bem longe desse lugar. 

 

Sobre gastos, eu tive um gasto absurdo de Uber, por conta de que em Orlando tudo ser longe uma coisa da outra, sendo separadas por estradas gigantes. Andar a pé? Nem pensar! Transporte público? Nem pensar! Realmente não era um gasto que eu achava que ia ser tão grande, e que muitas vezes saiu do controle. Meus outros gastos envolviam muito souvenires, comida, ingressos de parque, e eu já falei souvenires? Pouco comprei roupa, por achar que não valia tanto a pena, e por não ter muito espaço na mala. Em hipótese alguma despachem suas coisas pelos correios americanos. O preço é bastante salgo e você ainda corre um risco absurdo de ser taxado pela Receita Federal quando seu pacote entrar no Brasil.
 

Eating Around the World

Por falar em comida, não neguei minhas raízes taurinas e comi em cada restaurante dos 11 países do World Showcase no Epcot. Meu “Eating Around the World” consumiu uma parcela considerável do meu salário, porém não me arrependo de nada.

 

A quantidade de cultura que pude absorver de cada país na comida foi incrível, especialmente pelos seus temperos e formas de preparação de prato. Sinto muitas saudades do “coma-o-quanto-quiser” do Biergarten na Alemanha, da melhor carne que já comi na vida do Le Cellier no Canadá e da melhor sobremesa que já comi na vida feita pelo Restaurante Marrakesh no Marrocos.

 

Menções honrosas para todos os restaurantes: a guacamole do México me fez chorar, o pão de canela na Noruega, o frango da China, a carne de pato da França, a lasanha e tiramisù da Itália, as peças e o raiz teryaki incrível do Japão, o peixe com batatas do Reino Unido, e o sanduíche dos Estados Unidos com macarrão com queijo, bacon, cheddar, alface, tomate e duas carnes que me fez passar mal HAHAHAHA.

Infelizmente não sobrou dinheiro para o “Drinking Around the World", porém recomendo fazer os dois.

Além desse tour maravilhoso no EPCOT, fiz questão de experimentar o Mythos, restaurante no Islands of Adventure na Universal que por diversos anos consecutivos ganha o prêmio de melhor restaurante em um parque temático. Foi fácil saber o porquê.

11. Últimos dias e fim do programa

Os últimos dias mexeram muito comigo. Eu queria fazer o meu melhor para sair de lá com o pé direito e honrar os sete reconhecimentos que eu tive ao longo da minha jornada dentro do Epcot. É uma adrenalina absurda que passa dentro de você. Você se doa mais, não para Disney, mas para cada visitante que você quer que tenha uma experiência mágica no parque que você é um dos guardiões. Queria fazer bolhas, queria dar todos meus stickers, queria trocar todos meus pins. Queria meus co-workers ao lado o tempo todo. Queria abraçar o EPCOT com a máxima distância que meus braços poderiam alcançar. Meu último dia foi numa área nova, a região da fonte. Fiquei bem no centro do Future World e apesar do desespero de ter pego algo novo no meu último dia, não escondi a felicidade de missão cumprida no fim do dia. Ter estado no centro do Future World, com todos aqueles visitantes passando por mim foi uma honra absurda. Eu não me sentia triste pelo ICP estar acabando, me sentia feliz por ter realizado tudo aquilo. Me sentia feliz de ter posto um pouquinho de Raphael em cada visitante que passou por mim durante 3 meses. 

O último dia foi caracterizado pela tradição de 4 parks, 1 day. Ao visitar os 4 parques do Walt Disney World em um único dia, você concretiza sua formatura no programa. Mas eu tinha que fazer algo diferente né? Segui todo mundo na ordem pré-estabelecida: Animal Kingdom, visitando Flight of Passage e Expedition Everest, Hollywood Studios, visitando Toy Story Mania e Rock ‘n’ Rollercoaster e aí eu parei e fiquei sozinho. Sim, eu inverti os dois últimos parques. Do Hollywood segui para o Magic Kingdom e visitei o Hall of Presidents, participei do jogo interativo Sorcerers of the Magic Kingdom e fui na Space Mountain. Sim, o Happily Ever After com todo mundo junto não foi meu último show. Eu já o tinha visto dias antes no dia que eu fechei o Magic Kingdom junto com o João. Eu precisava que o IllumiNations fosse meu último show. 

Lá fui eu, no monotrilho sozinho indo para o EPCOT. Aproveitei os últimos segundos do parque que eu ajudei a tomar conta durante três meses, o parque que eu botei tudo que eu tinha ali, cada pingo de energia. Fui na minha atração favorita, Test Track, fui ver meu chefe pela última vez (Tchau, Figment <3) e esperei pacientemente pelo último IllumiNations como cast member. Era eu e o EPCOT, só nós dois. E eu senti uma energia incrível a cada fogos de artificio que estourava. Era a conclusão de um sonho que o Raphael que entrou num parque de diversões pela primeira vez com 14 anos jamais imaginava que se realizaria.

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Fiquei até 00:30 dentro do Epcot esperando ser o último visitante a sair. Falei com todos os co-workers meus, meus coordenadores e líderes. Era horrível ter que me despedir, mas eu sentia dentro de mim a realização desse sonho. E era fato de que toda noite traz um final, mas cada dia traz um legado. E era meu legado que eu estava deixando ali. Obrigado EPCOT. Você foi a melhor casinha que eu pude ter nesses 3 meses.

12. Grace Period – Orlando e Nova York
Meu Grace Period foi dividido em duas partes: 4 dias em Orlando e 6 dias em Nova York. Dividi dessa forma desde do início (resolvi meu GP já na hora de comprar passagem) porque tinha lugares que eu sabia que não ia dar tempo de ver durante o programa. Um deles era a Legoland, parque temático para crianças a poucos minutos de Orlando. SIM, era para criança, mas como eu precisava conhecer como era lá e como eles funcionavam como um parque, eu não tinha como deixar de ir. E adivinhe só? Eu tive um dia maravilhoso, muito divertido! Adulto pode ir na maior parte das atrações, e eu como fã de LEGO que sou, fiquei encantado com as inúmeras esculturas espalhadas pelo parque, assim como a grandiosidade dos jardins botânicos e a gigantesca árvore de bengala. Além do quê, eu precisava completar todas as montanhas-russas em Orlando.

 

No restante dos dias, aproveitei os parques da Universal, novamente completando o 100% de atrações e dei uma última passada no EPCOT, para uma despedida simbólica. Ter sido o último a sair novamente tocou no coração, mas eu tinha muito a sensação de dever cumprido, e que aquela saída era simplesmente um até logo. Não subi na Orlando Eye, apesar de ter ficado hospedado ao lado dela, por não achar que seria válido o preço quando já tinha visto tudo lá de cima do Skycoaster no Fun Spot.

 

Parti para Nova York, e aí começou um período muito estressante. Lembra que eu falei sobre tomar cuidado com a quantidade de coisa ao fazer as malas? Isso também vale para a quantidade de coisa que você compra durante o programa e não se atenta para o espaço deixado nelas. Eu tinha 4 malas para manejar sozinho mais uma sacola. O estresse que passei na ida para NY e na volta para o Brasil foi muito péssimo. A segurança americana de aeroportos é bastante rígida e ela irá implicar caso você tenha muita coisa na mão e muitos eletrônicos numa mala ou mochila.


Ao chegar em Nova York, a alternativa era um Uber até o hotel, onde fiquei muito surpreso com a completa falta de hospitalidade dos funcionários. Pessoas na rua (e olham que o mais me falaram era que NY era a cidade de cada um por si) me ajudaram mais que as lesmas sem vida do Pensilvânia. 


Minha primeira parada foi a Times Square, que conheci com as minhas companheiras de quarto Aline, Paula e Fernanda. Eu fiquei completamente perdido nas luzes e nos anúncios! Queria ler tudo ao mesmo tempo e meu cérebro bugou. Mas o que mais estava me fazendo feliz era que eu estava em uma cidade normal de novo, com calçadas, metrô, ruas e muitos novaiorquinos tentando ganhar a vida. Uma dinâmica que nunca encontrei em Orlando.

Os dias seguintes foram dedicados aos pontos turísticos da cidade, e dessa vez até o fim, fiz com a Gi (minha coworker que eu já estava morrendo de saudades <3); a Paula Othero, a custodian mais guerreira desse mundo e a dona do The Seas, a Giovana Silvestrini. Formamos um quarteto para explorar Nova York. Infelizmente o João não estava mais, e isso doeu muito.

Visitamos o Museu de História Natural, em que tomei um baque ao saber que o filme “Uma Noite no Museu" não foi gravado em seu interior, mas sim no de Londres. Deixando isso de lado, o Museu tem um acervo incrível, e é prato cheio para qualquer estudante de ciências biológicas, história ou geografia. À noite, fomos no restaurante Stardust, um lugar que é difícil de descrever com palavras pelo quanto ele é incrível. Nele, atores que tentam um lugar na Broadway cantam e dançam enquanto te servem. É como se fosse uma espécie de “escolinha” até que eles consigam passar nas audições dos musicais.


​Fomos até a Highline, um parque urbano construído em cima de antigos trilhos de trem urbano. Nessa aventura, descobrimos quase sem querer, um bairro chamado Greenwich Village, um centro histórico muito raiz. Lá, não tinha nada desses estabelecimentos genéricos que víamos na Times Square, no máximo uma Starbucks. A maior parte das lanchonetes e restaurantes eram do próprio local, proporcionando uma experiência única! Nesse bairro está o prédio da série Friends, e um importante pedaço da história do movimento LGBT. Desconfiamos pela grande quantidade de bandeiras arco-íris que vimos assim que saímos do metrô e pela sorveteria “Big Gay Icecream Shop”. Em uma das boates do lugar, a Stonewall, o movimento nasceu diante de um confronto com a polícia, que na época, tentava calar a cultura homossexual a qualquer custo. 


O Metropolitan Museum of Art (Met) é imenso e fiquei chocado com a quantidade de obras de outros países ali presentes. O lugar é tão grande que é dividido em por continentes. Seus grandes destaques são, além de oferecer artefatos de todos os cantos do mundo, as obras de arte da Idade Moderna (alô Van Gogh, Monet!), esculturas greco-romanas, pinturas medievais, e um gigantesco templo egípcio, transportado para dentro do Museu. Já o Museum of Modern Art (MoMA) é o paraíso para os amantes da arte moderna e contemporânea, especialmente para aqueles que querem ver obras famosas como A Noite Estrelada de Van Gogh. Os quadros de Tarsila do Amaral também estavam presentes no local, em uma exposição especial que retratava o movimento antropofágico brasileiro. O MoMA era de graça nas tardes de sextas.


Nossos rolês pelo Central Park já tinha virado tradição. Não tinha um único dia que não passávamos pelo Central Park, seja para admirar a natureza ou tirar fotos. Eu, particularmente, adorava caçar Pokémon no lugar mais propício no mundo para isso HAHAHAHA! Dentro do Central visitamos a estátua em homenagem a Alice (infelizmente lotada de crianças o tempo todo), o Castelo Belvedere, a estátua dos ursos e os inúmeros caminhos que aquele lugar tem. Perto dali, ficavam pontos favoritos das minhas companheiras de GP: a Biblioteca Central, naqueles moldes tradicionais que vemos nos filmes americanos, com salões enormes de madeira cheios de livro e mesas para leitura e a Barnes & Noble, uma livraria gigante no melhor estilo Saraiva. 


Infelizmente, eu subi no Top of the Rock (mirante do Rockefeller Center) numa noite cheia de neblina e chuva. Apesar da visão não ter sido completamente prejudicada, digamos que foi 95% (rindo de nervoso). Fazer o quê, acontece. Fomos até Wall Street conhecer a batalha entre o touro e a menina, e voltamos a Greenwich Village algumas vezes para experimentar algumas coisas que o bairro tinha a oferecer, como massa de cookie em um potinho (Cookie Dough), comida filipina deliciosa (Lumpia Shack) e tacos maravilhosos (goa taco).

Eu não podia sair de Nova York sem ver meus dois espetáculos que mais ansiava em ver na Broadway: Rei Leão e Wicked. Valeu cada centavo gasto. Eu não sabia se eu chorava de emoção ou se eu continuava em complexo êxtase com os olhos vidrados na peça e em cada ato dos atores. Fiquei completamente extasiado. Qualquer espetáculo da Broadway é uma onda absurda de cultura e talento. Vale muito a pena ver. Escolha seu favorito e não tenha medo de escolher seu ingresso!

 

Tudo que fazíamos pela cidade era de metrô, que cobria praticamente toda a cidade. Apesar de velho, sujo e cheio de infiltração, o bilhete com viagens ilimitadas de 35 dólares por 7 dias é uma mão na roda. O mais longe que eu fui, a parte do aeroporto JFK, foi até o Brooklyn, um dos distritos de Nova York. Foi um dos rolês mais emblemáticos, porque estava um frio muito grande e pegar uma ponte a pé, naquele vento, foi congelante. O mais legal foi poder conhecer um pouquinho da atmosfera residencial do Brooklyn e almoçar num Shake Shack (uma rede de fast-food com um aspecto gourmet) com vista para o rio. Durante nossas caminhadas pelo bairro, vimos uma cena de filme/série de época sendo filmada ao vivo em um dos prédios. Sensacional.

 

Nova York não poderia ter me acolhido melhor. Ter feito o Grace Period na cidade foi uma escolha certíssima, e a cidade se tornou um dos meus lugares favoritos no mundo. É uma cidade que vibra o tempo todo, a cada esquina. Faça de tudo para se tornar um verdadeiro nova-iorquino. Frequente as cafeterias, ande de metrô, ande na rua à noite (cuidado!), vá nos bares. É muito gratificante ter a visão do morador. Se tiver sorte, procure conversar com um deles e descubra muitas coisas legais e lugares novos para visitar.

13. Retorno ao Brasil e o Pós-ICP

O retorno ao Brasil foi complicado apenas pela logística com as 4 malas (por favor não cometam MESMO esse erro). De resto, tudo correu bem e eu estava muito ansioso para ver minha família de novo e meus amigos. Durante o ICP, senti muita saudade de todos, da minha vida na faculdade, da rotina no Brasil e das coisas que eu fazia no dia-a-dia para passar o tempo. É fato que por mais ou menos umas 2 semanas, não parecia ainda que eu tinha voltado para casa. Minha mente estava completamente bugada tentando reassimilar a rotina no Brasil, mas depois tudo voltou ao normal. Uma das coisas que mais sofri impacto negativo foi a volta da preocupação com segurança, infelizmente. 

 

O pós-ICP foi e não foi o que eu esperava. As saudades dos meus co-workers e das pessoas com que convivi mais lá foi crescendo (e continua crescendo), porém já faço planos de tours pelo Brasil para vê-los. Tivemos um tempo gostoso durante os dias de Lollapalooza, porém ao mesmo tempo que foi maravilhoso, foi muito dolorido ter que me despedir de novo. Foi a partir daí que eu percebi que é sempre melhor dar até logos do que fazer despedidas. Despedidas são fortes demais.
 

Ter entrado numa confusão sobre o meu futuro (o que eu não esperava) foi em partes graças ao ICP, no seguinte sentido: lá, eu tinha algo fixo, algo que eu precisava cumprir os horários e fazer meu serviço. Ao voltar para o Brasil, me deparei com vários planos de futuro, porém que foram adiados por atrasos no meu projeto, dificuldade em arranjar estágios e cancelamentos de atividades. Quando voltamos para incertezas, nossa mente entra em um estado de interrogação muito grande.

Apesar disso, sinto que meu dever no Walt Disney World foi cumprido e não gostaria de voltar para continuar fazendo o que fiz. Três meses foram mais que o suficiente, e além das saudades que sinto dos meus co-workers, o máximo que sinto de saudades são dos meus passes anuais para os parques da Flórida. Ainda estou em dúvida se farei novos programas da Disney, mas por enquanto gostaria de ajeitar minha vida aqui no Brasil e trilhar um caminho. A vida que temos em Orlando é completamente irreal, fora da casinha. Quando eu penso que ia para o Magic Kingdom sentar na grama em frente ao Castelo da Cinderela e ter a liberdade de cair no sono porque eu poderia visitar aquele lugar quantas vezes eu quisesse, eu penso no quanto isso é uma afronta a pessoas que talvez nunca poderão pisar lá, ou que juntaram anos de dinheiro para pisar lá por menos de 24 horas. É um privilégio muito grande.

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Procuro hoje pegar o privilégio que tive ao fazer o International College Program e repassar o máximo que posso de conhecimento e experiências ao próximo de modo que os inspire a buscar uma vaga, buscar um sonho ou apenas repassar minha visão sobre a vida nos Estados Unidos. O processo como um todo não foi fácil desde do começo, mas é uma delícia! Nós passamos por situações que permitem crescermos tão rápido que nem sentimos. Aí depois de ler isso tudo talvez você se pergunte se o ICP vale a pena? 

 

Não sei, mas se eu fosse você, eu ia descobrir. 

 

I owned every second that this world could give

I saw so many places, the things that I did

Yeah with every broken bone

I swear I lived.

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