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O Mistério da Monga: a mulher-gorila

Conheça a história de uma das mais conhecidas atrações de terror do Brasil!

João Vitor Becker

26 de abr. de 2023

Quando você pensa em atrações de terror, deve vir em sua mente atrações como o antigo Castelo dos Horrores do Playcenter, o Katakumb do Hopi Hari ou até mesmo os famosos trens fantasmas espalhados pelo nosso país, com nomes como Túnel do Terror, Thriller, Drácula & Cia, Devil's House e vários outros. Mas outra atração de terror também deve vir a sua mente, a Monga, acertei? 



Infelizmente, nunca tive a oportunidade de ir nesta atração, mas um primo meu já foi quando ela ainda operava no Beto Carrero World. Tinha uns quatro anos quando ele me contou da aterrorizante experiência dele que foi assistir ao show. Ele me contou o quão aterrorizante foi presenciar aquela linda mulher se transformando em um violento gorila. Porém meu primo teve uma reação diferente dos demais após o gorila ter se libertado da jaula: ao invés de correr, ele se escondeu em um cantinho agachado, com os olhos bem fechados. Até que sentiu algo peludo encostar nele. Como se já não estivesse assustado o suficiente ouvindo aquela história, meu outro primo (irmão deste meu primo que me contava a história) surge descendo as escadas de sua casa e correndo em minha direção. E então meu primo brincou dizendo "Pelo menos não foi a Monga!". Posso afirmar que este é um dos maiores sustos que eu já levei em minha vida. 



Mas voltando à Monga, a sua história é mais antiga do que você possa imaginar. Tudo começa com um senhor chamado Romeo del Duque. Quando criança ficou fascinado quando seu tio lhe mostrara uma caixinha, que continha em seu interior dois bonecos, uma placa de acrílico e uma lanterna. E com somente esses poucos itens, seu tio recriava a famosíssima ilusão de ótica conhecida como Pepper's Ghost, ou O Fantasma de Pepper. Com o vidrinho posicionado em um ângulo de 45° e dois bonecos, um de cada lado do vidro, seu tio reproduzia a ilusão de ótica. No escuro, quando a luz se posicionava num boneco obviamente o que Romeo via era este boneco em questão, mas quando seu tio lentamente movimentava a luz de um boneco para o outro o primeiro boneco aparentava assumir as cores e formas do segundo boneco. Na mente do pequeno Romeo, ele pensava que ele e seu tio poderiam ficar ricos utilizando este truque, o que nunca aconteceu, ou talvez sim. 



Quando mais velho, Romeo decidiu criar a ilusão de ótica em grande escala. Mas agora substituindo a figura dos dois bonecos para a figura de uma mulher que se transformava em um gorila, criando assim um assustador show para parques de diversões. O resultado disto foi um lucrativo negócio, quando Romeo instalava a sua atração em parques de diversões ou outras feiras como a Fapi Ourinhos. Até que um dia ele foi convidado para instalar a Monga no Playcenter que à recém havia sido inaugurado no terreno da Barra Funda em São Paulo, porém em uma curta temporada apenas para o evento de Festa Junina no Parque. Mas para sua surpresa o sucesso foi tamanho que a Monga se tornou uma atração fixa do parque, com a fila igualando no tamanho da fila de outras atrações como o Grenoble 68, um Bayernkurve da Schwarzkopf que anos depois foi renomeado para Concorde e a famosa Super Jet, a primeira montanha-russa de aço do Brasil. 



No Playcenter, a Monga operou em três versões. A primeira versão operou no parque em meados da década de 70, enquanto a segunda em meados da década de 80, até o seu fechamento em 1988 após um incêndio, que inclusive resultou com o Playcenter sendo interditado pela Prefeitura de São Paulo. Já a terceira versão foi aberta ao público em 2007, e foi a primeira atração aberta no parque desde a estréia do Waimea em 2005. A atração abriu em 2009 sob o nome de O Mistério da Monga, e foi completamente idealizada e desenvolvida pela Indiana Mystery, empresa especializada na criação de atrações de terror para parques de diversões, mesma empresa responsável pelo Katakumb do Hopi Hari, Portal da Escuridão do Beto Carrero World e do Castelo dos Horrores, também do Playcenter. 



Para O Mistério da Monga, foi criada toda uma história que posteriormente foi contada em um curta-metragem de 4 minutos de duração antes do início do show, fazendo da Monga a primeira atração do Brasil a utilizar o formato de pré-show. No filme era contada a história de Júlia, uma bióloga que viaja para a África para estudar uma nova espécie chamada de Monga, e protegida por uma agressiva tribo. Porém ao chegar lá, Júlia é atacada por um monga sendo mordida por ele, e tem todo a sua genética, o seu DNA modificado, tornando-se em um monga adulto. 

A atração tinha uma temática africana e a inspiração para o enredo do filme apresentado durante o pré-show foi a história da jovem mexicana Julia Pastrana.



Julia nascida em 1934 é famosa por conta de sua condição, a hipertricose, também conhecida como hipertricose terminal ou hipertricose lanuginosa generalizada, uma raríssima condição que causa o anormal crescimento de pelos por todo o corpo, incluindo até mesmo o rosto e o interior de sua boca. Por conta de sua condição, Julia foi mais uma das vítimas dos famosos freakshows, ou circo-dos-horrores como conhecemos aqui no Brasil. Ela viajava junto com outras pessoas também portadoras de raras condições além de anormalidades e deformidades corporais, apresentando-se em circos apenas para o entretenimento da elite. 



Julia começou a se apresentar em freakshows após a morte da mãe, quando o seu tio a vendeu para um. Após apresentar-se em freakshows, Julia morou na casa de Pedro Sánchez, governador de Sinaloa, porém deixou sua casa em 1854. Depois um homem chamado Francisco Sepúlveda a comprou e a levou para os Estados Unidos e a colocou para se apresentar em freakshows, porém Julia fugiu ainda no mesmo ano juntamente a um homem chamado Theodore Lent e casou-se com ele em Baltimore. Mesmo após o casamento, Julia continuava a se apresentar mas agora como cantora e dançarina. Durante uma apresentação em Moscou na Rússia, Julia deu à luz ao seu primeiro filho que havia nascido com a mesma condição de sua mãe. Mas infelizmente a criança viveu por apenas três dias e então veio à falecer. Cinco dias depois da morte de seu único filho, Pastrana faleceu por complicações pós-parto. 



Após sua morte, o seu corpo e o corpo de seu filho foram vendidos pelo seu esposo Theodore Lent para a Universidade de Moscou, para a realização de estudos em torno da sua condição, dá para acreditar nisto? Ou seja, nem mesmo o direito de uma morte digna, Julia teve. Por mais de cem anos o seu corpo e o corpo de seu filho foram expostos em museus, circos e parques de diversões. Em 1921 seu corpo apareceu na Noruega e anos depois encontrava-se em exibição nos Estados Unidos até o ano de 1972 quando foi enviado à Suécia e exposto no país. Mas após a recepção negativa do público, o seu corpo e o de seu filho foram retirados e armazenados. Em 1976, o depósito onde encontravam-se os corpos foi invadido por vândalos, e o corpo do filho de Júlia foi danificado, e o que restou dele foi consumido por ratos. 



O corpo preservado de Julia foi roubado em 1979 mas posteriormente encontrado, recuperado e armazenado no Instituto Forense de Oslo. Em 1994 o Senado da Noruega recomendou o enterro dos seus restos mas o Ministro das Ciências daquela época decidiu manter o corpo de Julia para mais pesquisas. O corpo de Julia foi sepultado somente em 2013, 153 anos após a sua morte com a ajuda do ex-governador do Estado de Sinaloa Mario López Valdez e da artista visual Laura Anderson Barbata, além de autoridades norueguesas. O corpo de Julia foi enterrado no Cemitério de Sinaloa de Levya, localizado próximo à sua cidade natal. 



Mas voltando para a atração do Playcenter, pela primeira vez foi criada uma saída de emergência para pessoas que com medo resolvessem deixar o show. A atração operou no Playcenter de 2007 até o fechamento do parque, em 29 de julho de 2012. Além de operar no Playcenter, O Mistério da Monga operou em Belo Horizonte em Minas Gerais no Parque Guanabara, além de ter operado também em uma outra versão no Beto Carrero World. Já fora do Brasil, a Monga opera até hoje no parque Fantasilandia localizado em Santiago no Chile, em uma versão desenvolvida exclusivamente para o parque pelo próprio Romeo del Duque, sendo uma de duas atrações de terror do parque, sendo a outra o Castillo Encantado, uma atração paga a parte e similar ao Castelo dos Horrores do Playcenter. 

Hoje, além de ser encontrada em Santiago no Fantasilandia, a Monga também pode ser encontrada em alguns parques itinerantes espalhados pelo Brasil, mas muito possivelmente não pelo nome de Monga, já que os direitos autorais do nome Monga pertencem à Romeo. 

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